quarta-feira, 23 de março de 2016

Fichamento #1 - A Cauda Longa

"Mais uma vez, a dificuldade em observar o firmamento é olhar para o lugar certo,
no momento certo, para assistir aos fenômenos mais interessantes,
como asteroides ou evolução estelar. E menos uma questão do tamanho
e do preço do telescópio e mais uma questão de quantos olhares
estão voltados para o céu, com os instrumentos certos, em determinado instante."


Já tinha um tempo eu li alguns capítulos do livro A Cauda Longa, de Chris Anderson. Hoje, como a atividade da disciplina de Produção Publicitária em Meios Digitais de realizar um fichamento da obra, me vejo às voltas com os capítulos 1 e 5 deste livro.

O engraçado é que o livro, lançado em 2006, já parece meio outdated para os tempos atuais. Traz conceitos que já nos parecem tão lugar comum (afinal, já são 10 anos do lançamento do livro, hein), mas cabe trazer à tona algumas constatações do autor, principalmente no que tange as relações de produção x consumo, oferta x demanda, coisas que muita gente por aí insiste em não revisar. Pois bem, depois não reclamem se seus negócios não deram certo. ¯\_(ツ)_/¯

Chris Anderson parece ter um certo gosto pela análise do mercado digital. Aliás, é editor-chefe da Wired Magazine, uma revista americana sobre tecnologia, design e mercado digital. Fraco não, o moço. Em A Cauda Longa, ele analisa mercados online, lançando estatísticas periódicas de vendas desses mercados comparados ao mercado varejista convencional (lojas físicas) sob uma perspectiva probabilística. Esses dados são colocados em uma curva gráfica (curva de Pareto), onde ele chega a algumas conclusões - as tais que eu falei que já parecem old school para a nossa atual realidade. Mas que conclusões são essas? Vamos a elas.

Seleção irrestrita

Segundo o autor, seja, por motivações econômicas, ou de agenda setting, somos induzidos à um universo homogeneizado de opções. Mas as oportunidades de criar demanda sobre produtos extrapolam essas motivações, e isso foi observado pelo autor quando informações de compra em tempo real foram cruzadas com tendências de compra do consumidor em uma loja online. Essas tendências se revelaram através da busca pela opinião de outros consumidores sobre os produtos nessa loja online.

Nessa pesquisa, é que o autor chega à conclusão que guia todo o livro: o mercado de consumo de hits (ou seja, produtos aceito em massa) chega a ser equalizado pelo mercado de nicho (a tal Cauda Longa, ou seja, os demais produtos na curva de consumo).

A Cauda Longa
A Cauda Longa


A tirania da localidade e a maioria oculta

Segundo o autor, uma restrição do mundo físico é a própria física. A capacidade de armazenamento de bens de consumo. Os varejistas se interessarão apenas pelo conteúdo capaz de gerar demanda suficiente para pagar os custos de estocagem. Para sanar isso, a indústria de entretenimento aposta em grandes sucessos. Os sociólogos, para Anderson (2006), diriam que os hits são inerentes à psicologia humana — que são o efeito da combinação de conformismo e divulgação boca a boca. No entanto, o próprio autor desvenda que somos atraídos pelas variantes quanto mais exploramos alternativas. Esse é o tal mercado potencial.

É superando as barreiras físicas onde se encontram os mercados novos. Esses mercados novos, que são numerosos, quando multiplicados por um baixo número de volume de vendas, ainda resultam em um alto número - o faturamento marginal, que pode ser um negócio eficiente e eficaz em relação ao custo (olha a teoria da Administração aí, gente!)

Anderson (2006) é ainda mais otimista quando diz que interligando oferta e demanda, toda a natureza do mercado muda qualitativamente, e se revela uma demanda por conteúdo não-comercial (a Cauda Longa que ele tanto defende).

Os novos produtores (amadores)

Foi com um extrato sobre o amadorismo que abri esse texto. Na verdade, creio esta ter sido a grande visão de Chris Anderson quando ele fala sobre a Cauda Longa. A democratização dos meios de produção também criam novos mercados, pois somos, ao mesmo tempo, colocados na condição de consumidores e produtores. Entretanto, ele mesmo questiona sobre as questões de qualidade na natureza do conteúdo contido na Cauda Longa - que é variável e diversa.

A economia da reputação

Produtores amadores criam sem propósitos comerciais. Há, portanto, uma inversão da indústria cultural: a criatividade é supervalorizada perante os custos de produção e distribuição. E, por fim, mais uma vez cito o autor:

"(...) produtores de todos os tipos, que começam na cauda,
com poucas expectativas de sucesso comercial, podem dar-se ao luxo
de correr riscos, pois têm menos a perder.
Não há necessidade de licença prévia, de plano de negócios
nem mesmo de capital. As ferramentas da criatividade agora são baratas
e, ao contrário do que imaginávamos, o talento se distribui
de maneira mais dispersa."


Assim, a Cauda Longa talvez se transforme na área crucial da criatividade, lugar onde as ideias se formam e se desenvolvem, antes de se transformarem em sucessos comerciais.



Referência:

ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: do Mercado de Massa para o Mercado de Nicho . São Paulo: Ed.Campus, 2006.

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